Vento e ‘moais’ no caminho até Tara

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O dia amanheceu estranho. Nuvens e névoa em pleno outono só podem significar chuva ou tormenta. Como seria muita sorte (quase um milagre) ver a água molhar o deserto nesta época do ano, a segunda opção preocupou os guias. Com uma tempestade de areia a caminho, a visita ao Salar de Tara estaria comprometida.

O grupo resolve correr o risco e embarcar rumo aos cenários mais variados – e surreais – do Atacama. ”Ao meio-dia, poderemos avaliar melhor o tempo”, disse, confiante, o guia Luis Aracena. No deserto, tudo pode mudar drasticamente em minutos. ‘

Enquanto o carro avança pela estrada asfaltada, contorna o Vulcão Licancabur e ganha altitude. As curvas seguem quilômetros e quilômetros pela fronteira com a Bolívia, até os 4.600 metros, no Mirante Kipiaco. A previsão de Aracena parece se confirmar: o céu está ficando azul de ponta a ponta, graças à força do vento.

A primeira parada é um tanto traumática. Mal dá para fotografar a paisagem árida e selvagem. O corpo logo sente o impacto da mudança do ar quente da van para as rajadas que cortam a pele a 70 quilômetros por hora. A temperatura beira o zero grau, mas a sensação térmica é de 15 graus negativos.

O veículo continua a jornada por uma estrada de terra que sobe e desce dunas. Agora, sim, a visão mais básica de deserto. Muita poeira, muita areia. Uma vastidão castanha. Para quebrar tal monotonia, eis que surgem formações rochosas de até 30 metros de altura, conhecidas como Monjes de Tara e parecidas com os moais existentes na Ilha de Páscoa.

O vento agora não segura ninguém no carro. É difícil se equilibrar, a mão queima de tanto frio, mas nada pode estragar esse momento diante de estruturas impressionantes, que brotaram há milhões de anos no meio do nada. O mais incrível é observar o contraste que formam, lá no horizonte, com o azul da lagoa de sal.

A aventura segue cortando o deserto. Quando as Catedrales de Tara aparecem, indicam que o salar está bem perto. Essas curiosas formações rochosas abrem a trilha até a lagoa central, enfeitada por flamingos.

O Salar de Tara sempre fez parte da rota de mercadorias entre os países andinos e chegou a ser refúgio de caçadores, séculos atrás. Hoje, abriga pastores de lhamas. O visual, aqui, muda completamente. De um lado da lagoa, as catedrais. De outro, uma cadeia de montanhas com picos nevados. Ao redor, chumaços de vegetação.

Depois de quase três horas de sacolejo, é servido o almoço dentro de uma cabana solitária no salar. Isso porque o vento não dá trégua e impede que a mesa seja montada de frente para a paisagem alucinante. Mas, pelo menos, atrasa a chegada da tormenta. Pães, frios, filé de frango e abacate estão no cardápio. E vinho, para esquentar. 

De volta à estrada, a poucos quilômetros de San Pedro de Atacama, o dia volta a ficar embaçado. É a tempestade de areia, que finalmente alcança o grupo. Lindo espetáculo da natureza – ainda mais visto de dentro do carro.

Sobre Camila Anauate

De alma inquieta e mente aberta, que me fizeram jornalista, viajante, aventureira, sonhadora sem-fim
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